Sabe o que é uma relação abusiva? Será que consegue identificar os sinais de que pode estar a viver numa relação abusiva?
Ao contrário do que muitas pessoas pensam, estar num relacionamento abusivo não se resume a existência de violência física. Isto porque, muitas das vezes, a violência também se manifesta de outras formas, como a violência psicológica, sexual e financeira.
Por oposição à violência física, este tipo de violências são muito mais subtis, e por isso mais difíceis de identificar. E, por isso, acabamos por ficar presos nestas relações, que nos fazem infelizes, sem conseguirmos entender que estamos numa relação abusiva.
Para além disso, nenhuma relação começa por um comportamento violento, porque ninguém iria ficar numa relação que começa dessa forma. Então, ao início, é natural que tudo seja um mar de rosas, e só no momento em que já existe alguma dependência emocional é que tudo começa a descambar.
Entenda quais são os sinais de alerta, a que deve estar atento, e o que pode fazer para se libertar, de vez, dessa relação.
Sinais de que está numa relação abusiva:
O principal sinal de que estamos perante uma relação abusiva é a existência de uma relação de poder – como se um dos elementos fosse superior, ou as suas necessidades mais importantes. Numa relação saudável existe equilíbrio, e ambos os parceiros são tratados de forma igual, com os mesmos direitos. Numa relação abusiva, um dos parceiros sente-se mais importante, mais amado, controla mais o que acontece. Se temos uma relação romântica desigual, está na altura de falar sobre isso, fazer mudanças ou terminá-la e seguir em frente.
Para identificar se está numa relação abusiva, atente aos seguintes sinais. O seu parceiro:
- Fica zangado quando não desistimos dos nossos planos/interesses para estarmos com ele/a ou fazer o que ele/a quer;
- Critica a forma como se veste;
- Diz-lhe que nunca será capazes de encontrar outra pessoa que queira namorar consigo;
- Quer saber tudo o que está a fazer, a toda a hora, por exemplo, envia constantemente mensagens ou telefona a querer saber onde está, com quem ou o que está a fazer;
- Quer que passe todo o seu tempo com ele/a;
- Tenta controlar os diferentes aspetos da sua vida (como se vestimos, com quem fala, o que diz, controla o seu telefone, email ou redes sociais …);
- Impede que esteja com os seus amigos ou fale com outros rapazes/raparigas;
- Dá sempre a volta à situação fazendo parecer que a culpa das ações dele/a é sua;
- Já lhe levantou a mão numa situação em que estava zangado/a ou ameaçou bater;
- Pressiona para levar a relação sexual para outro nível, para o qual não se sente preparado.
Se alguma destas situações já tiver acontecido, então é provável que esteja numa relação abusiva, mas podem existir outros sinais. Se se conseguir lembrar de alguma vez em que o seu parceiro o tenha tentado controlar, fazer com que se sinta mal consigo próprio, isolado do resto do mundo ou o tenha magoado física ou sexualmente, então é o momento de sair dessa relação.
Como sair de uma relação abusiva?
Sair de uma relação abusiva sem qualquer tipo de ajuda social, seja de uma amiga, ou de terapia, é quase impossível. Isto porque, na maioria das vezes podemos sentir vergonha de não estarmos a conseguir sair da relação, ou porque já chegou ao ponto de dependermos emocional, ou financeiramente, do agressor.
Por vezes, podemos também já ter sido ameaçados de que algo nos poderia acontecer de mal, se nos tentássemos separar, ou chegarmos a acreditar que não existe mais ninguém para nós.
Mas, tudo isso não é verdade! Lembre-se de que é uma pessoas maravilhosa, cheia de qualidades e que muitas outras pessoas no mundo iriam adorar conhece-lo melhor e partilhar a vida consigo. Comece por pedir ajuda, e construa uma rede de apoio que estará lá para o ajudar no momento em que se conseguir afastar da situação.
Depois disso, siga os seguintes passos:
1. Acredite que existe uma saída.
O primeiro passo para conseguir sair de uma relação abusiva é acreditar que é possível. Milhares de outras pessoas já o fizeram no passado, e infelizmente muitas outras ainda o farão no futuro. Encontre essa confiança dentro de si, porque é possível!
2. Não se deixe isolar.
Existem pessoas que gostam de si, e que farão tudo o que é possível para a ajudar. Sejam familiares, ou amigos, fale com eles sobre o que está a acontecer, e pensem em soluções em conjunto. Peça ajuda!
3. Leia sobre o tema, e informe-se.
Conseguir detetar que está numa relação abusiva é tão importante como sair dela. Existe imensa informação disponível, para que possa não só entender o que se está a passar consigo, mas também o que esperar no futuro, e algumas dicas para que possa proteger-se. Esteja informado.
4. Comece a criar condições para ter a sua independência financeira.
Ter condições para ser independente financeiramente, ou pelo menos um plano de como o fazer, vão ajudar a que se sinta mais seguro para sair da relação abusiva, e saber que terá como seguir com a sua vida em frente.
5. Quebre o contacto.
Quando finalmente for capaz de se libertar dessa relação, deixe completamente o contacto com o agressor. Não responda a mensagens por simpatia ou obrigação, e não caía no erro de marcar encontros com o agressor (muito menos sozinha).
Para quem tem filhos em comum, isto poderá ser mais complicado. Tenha uma pessoa de confiança que possa fazer esses contactos por si, e possa estar consigo em momentos que terá de se encontrar com o agressor.
6. Esteja consciente da realidade, e não se deixe iludir.
Após o final da relação, pode acontecer que o seu cérebro desenvolva uma memória seletiva, para o proteger de toda a dor e sofrimento pelo qual passou. Não se deixe enganar pelas memórias boas, nem pelas saudades de quando tudo era um mar de rosas.
Fique aleta com os seus pensamentos, e tente racionalizá-los. A esperança, a culpa e a dúvida são efeitos do abuso e podem confundi-lo ou até mesmo fazer com que tenha vontade de voltar para a relação violenta.
7. Volte a ser o centro da sua vida.
Retome as rédeas da sua vida. Lembre-se de quem você era antes de tudo isto acontecer, e resgate a sua autoestima!
8. Entenda os riscos que corre, e proteja-se.
Para muitos abusadores, o facto de terminar a relação é uma grande afronta, e pode fazer com que tentem desestabilizar a sua vida de outras formas. Não subestime a situação e proteja-se física e emocionalmente para o que pode acontecer.
9. Converse com outras pessoas que tenham passado pela mesma situação.
Infelizmente, não são raros os casos de relações abusivas. De acordo com a ONU a cada 3 mulheres 1 vai passar por um tipo de abuso ao longo da vida. Converse com quem já viveu experiências parecidas com a sua, perceba as semelhanças, os sentimentos, e a forma como essa pessoa superou a situação.
Evite que volte a acontecer
É importante procurarmos manter relações saudáveis ao longo da nossa vida. Para além disso, as relações saudáveis melhoram a nossa capacidade de amarmos e de sermos amados, contribuem para o bem-estar físico e mental e podem mesmo contribuir para uma vida mais longa.
Para termos a certeza de que nunca mais nos voltamos a deixar levar por uma relação abusiva, é importante quebrarmos padrões de comportamento, que muitas vezes vêm da infância. E isso só é possível através de terapia.
É importante compreendermos que o abuso piora ao longo da relação (não melhora!). Devemos sempre sentir-nos seguros e aceites numa relação, se isso não acontece é tempo de mudarmos nós a nossa vida e garantir a nossa segurança. Devemos considerar terminar a relação antes que o abuso se agrave. Ninguém merece ser maltratado, agredido, castigado. Todos merecemos ser amados e bem tratados.